Eu sempre fui muito tímido, mas
dessa vez me sentia compelido a chama-la pra sair, não tinha todo o tempo do
mundo, ela estava se mudando para outra cidade, e era muito longe, e se lá ela
conhecesse alguém legal, alguém que não fosse eu, alguém que não quisesse
amá-la tanto quanto eu? Ela era linda, baixa e magra, com o cabelo liso com
mechas coloridas de roxo, meio desbotadas, feições pardas, asiáticas, jeitinho
tímido que deixava um ar misterioso.
“Eu vou
me mudar “ ela disse. E meu mundo ruiu. Não queria ficar longe dela.
Sempre
achei idiotas aquelas frases clichês “melhor se arrepender do que fez do que de
não ter feito algo”, mas agora que isso está acontecendo comigo... Eu só queria
tê-la por perto, sempre.
- Boa
noite!
- Boa
noite.
- Quero
ir ao cinema com você antes de ir embora...
-
Vamos! - Ah! Se eu soubesse que seria tão fácil eu teria tentado antes. Talvez
fosse, talvez não. Vamos aproveitar o agora, porque agora eu realmente fiquei
feliz, seria muito eu querer que ela se apaixone por mim e desista ir embora.
Queria dizer pra ela que quero fazê-la feliz, que quero beijá-la, cuidar dela,
confortá-la, fazer um cafuné até que ela se perca no sono, vê-la dormir por
alguns momentos até também entrar no mundo dos sonhos. Mas por enquanto o que
eu posso fazer é confabular e devanear. E eu durmo pensando em como seria se
ela não fosse.
Parece
maçante, eu pareço entediante, e é porque eu sou. Nunca me vi como uma pessoa
bonita, sou muito pálido, meus cabelos são grossos e escuros, e se enrolam
tanto que deixam de ser cachos para serem um emaranhado de fios. Tenho estatura
mediana, mas sou muito magro, e não sou bom em esportes, então não tenho nenhum
músculo aparente.
Se eu
fosse definir uma cor pra minha vida seria cinza, não chega a ser o preto, que
é ausência de cores, mas também não é branco de luz. Mas quando falo com ela,
ganha algumas cores.
O
despertador tocou às 06h00, como sempre, todos os dias eram iguais. Deslizei
meu dedo no quadrado verde com a setinha para o lado, para que parasse de
tocar, sentei na minha cama e planejei mentalmente meu dia.
(...)
Ela estava sentada do meu lado, e o filme estava passando,
mas juro que não conseguia olhar pra tela, e só pra ela do meu lado. Pra mim
ela era perfeita. Amava o jeito que Ela arrumava o cabelo pra trás das orelhas,
mas logo depois puxava pra frente dos ombros novamente, como quem esquecera que
está escondendo o rosto, aquele rosto que eu achava lindo. Com as bochechas redondinhas
e salientes, nariz achatado, boca com lábios finos e levemente rosados e
aqueles olhinhos puxadinhos que fazia parecer que estava sempre sorrindo.
Quando
acabou o filme, eu continuava olhando pra ela, que finalmente fixou os olhos em
mim e perguntou:
- Gostou do filme?
-
Gostei! – menti.
- Você
não parecia estar prestando atenção, olhei algumas vezes e parecia que você
estava olhando alguma coisa do meu lado.
- Não
era do seu lado, May, era você... – Falei quase que em forma de sussurro, pois
estava com muita vergonha de confessar isso - ...Não consegui prestar atenção
no filme, só consegui prestar atenção em você. Nesse momento ela corou,
consegui ver mesmo no breu da sala de cinema. Não esperei pra saber se ela iria
falar algo, talvez tivesse ficado sem resposta, então continuei .
- Gosto
muito de você, May. Quero estar com você.
-
Também gosto de você, H
- Por
favor, não diga que só como amigo, eu quero mais que isso!