quinta-feira, 26 de fevereiro de 2015

Cinema




Eu sempre fui muito tímido, mas dessa vez me sentia compelido a chama-la pra sair, não tinha todo o tempo do mundo, ela estava se mudando para outra cidade, e era muito longe, e se lá ela conhecesse alguém legal, alguém que não fosse eu, alguém que não quisesse amá-la tanto quanto eu? Ela era linda, baixa e magra, com o cabelo liso com mechas coloridas de roxo, meio desbotadas, feições pardas, asiáticas, jeitinho tímido que deixava um ar misterioso.
                “Eu vou me mudar “ ela disse. E meu mundo ruiu. Não queria ficar longe dela.
                Sempre achei idiotas aquelas frases clichês “melhor se arrepender do que fez do que de não ter feito algo”, mas agora que isso está acontecendo comigo... Eu só queria tê-la por perto, sempre.
                - Boa noite!
                - Boa noite.
                - Quero ir ao cinema com você antes de ir embora...
                - Vamos! - Ah! Se eu soubesse que seria tão fácil eu teria tentado antes. Talvez fosse, talvez não. Vamos aproveitar o agora, porque agora eu realmente fiquei feliz, seria muito eu querer que ela se apaixone por mim e desista ir embora. Queria dizer pra ela que quero fazê-la feliz, que quero beijá-la, cuidar dela, confortá-la, fazer um cafuné até que ela se perca no sono, vê-la dormir por alguns momentos até também entrar no mundo dos sonhos. Mas por enquanto o que eu posso fazer é confabular e devanear. E eu durmo pensando em como seria se ela não fosse.
                Parece maçante, eu pareço entediante, e é porque eu sou. Nunca me vi como uma pessoa bonita, sou muito pálido, meus cabelos são grossos e escuros, e se enrolam tanto que deixam de ser cachos para serem um emaranhado de fios. Tenho estatura mediana, mas sou muito magro, e não sou bom em esportes, então não tenho nenhum músculo aparente.
                Se eu fosse definir uma cor pra minha vida seria cinza, não chega a ser o preto, que é ausência de cores, mas também não é branco de luz. Mas quando falo com ela, ganha algumas cores.
                O despertador tocou às 06h00, como sempre, todos os dias eram iguais. Deslizei meu dedo no quadrado verde com a setinha para o lado, para que parasse de tocar, sentei na minha cama e planejei mentalmente meu dia.


(...)




Ela estava sentada do meu lado, e o filme estava passando, mas juro que não conseguia olhar pra tela, e só pra ela do meu lado. Pra mim ela era perfeita. Amava o jeito que Ela arrumava o cabelo pra trás das orelhas, mas logo depois puxava pra frente dos ombros novamente, como quem esquecera que está escondendo o rosto, aquele rosto que eu achava lindo. Com as bochechas redondinhas e salientes, nariz achatado, boca com lábios finos e levemente rosados e aqueles olhinhos puxadinhos que fazia parecer que estava sempre sorrindo.
                Quando acabou o filme, eu continuava olhando pra ela, que finalmente fixou os olhos em mim e perguntou:
                - Gostou do filme?
                - Gostei! – menti.
                - Você não parecia estar prestando atenção, olhei algumas vezes e parecia que você estava olhando alguma coisa do meu lado.
                - Não era do seu lado, May, era você... – Falei quase que em forma de sussurro, pois estava com muita vergonha de confessar isso - ...Não consegui prestar atenção no filme, só consegui prestar atenção em você. Nesse momento ela corou, consegui ver mesmo no breu da sala de cinema. Não esperei pra saber se ela iria falar algo, talvez tivesse ficado sem resposta, então continuei .
                - Gosto muito de você, May. Quero estar com você.
                - Também gosto de você, H
                - Por favor, não diga que só como amigo, eu quero mais que isso!
 

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