terça-feira, 24 de março de 2015

Como é trabalhar como Psicóloga na área social


Deixa eu começar explicando que quando você faz psicologia, assim como todas profissões, você tem áreas a seguir. São muitas mesmo: Clínica, saúde mental, hospitalar, neurociências, organizacional, social, publicidade, esporte... E por aí vai. Bom, logo depois de formada eu trabalhei fora da área e depois passei em concurso público, assim não escolhi a área, somente fui encaminhada para a secretaria de assistência social; Essa sendo dividida em três diretorias, a baixa, média e alta complexidade, fazendo uma comparação direta com a saúde, baixa complexidade seriam as UBSs (Unidade básica de saúde); Média, os AMEs (Ambulatório médico de especialidades) e Alta complexidade os hospitais. Na área social seriam, respectivamente os CRAS, CREAS e Serviços de acolhimento. Na saúde nos tratamos a saúde (dã) e na área social, nós trabalhamos as vulnerabilidades sociais.

O que seriam vulnerabilidades sociais? São riscos sociais, geralmente associadas a pobreza, mas nem sempre. Pessoas em vulnerabilidade social são aquelas que são expostas a exclusão social, pessoas pobres ou próximas a linha da pobreza, vítimas de violência doméstica, pessoas em condições precárias de moradia, sem condições de auto-sustento; abandonadas e/ou expulsas dos espaços de convívio da sociedade.

Nos CRAS (Centro de referência de assistência social) se trabalha a prevenção a vulnerabilidade social; Com as famílias expostas a situação de risco social, mas que ainda não sofreram nenhuma violação de direitos humanos; Geralmente é onde se busca informações para benefícios eventuais, cadastros para bolsa famílias e outros programas do governo para evitar que essas famílias/indivíduos cheguem a se tornar marginalizados pela sociedade.

Nos CREAS (Centro de referência especializado de assistência social) se tratam assuntos específicos nos casos em que já foi sofrida alguma violação de direitos. Crianças/mulheres/idosos vítimas de violência e moradores de rua são os principais públicos.

Nos serviços de acolhimentos são atendidos indivíduos que já tiveram vários direitos violados, não tendo mais nenhum vínculo familiar ou social para onde possam retornar, tendo que ser assim acolhidos por um equipamento do município para que sejam trabalhados para adquirir autonomia para retornar ao convívio social/mercado de trabalho.

Quando entrei na prefeitura, comecei pela baixa complexidade, trabalhei num CRAS. O serviço em si era bem precário, basicamente ficávamos preenchendo cadastros de bolsa família a maior parte do dia. Mas mesmo nessa situação, comecei a entrar em contato com diversas situações que estavam completamente fora da minha visão.Já comecei a rever vários conceitos internos. Comecei a ampliar muito a minha visão das coisas, tanto que algumas preocupações parecem simplesmente insignificantes agora, depois de ver famílias inteiras morando em casas menores que meu quarto.

É tanta, mas tanta gente, que a gente começa a entender as estatísticas. Coisas que no meu mundinho é normal, eles nem pensam em ter, nem sabem que existe, é coisa de novela. Sério mesmo, tem gente que nunca viu "queijo embalado um a um".

O trabalho do psicólogo acaba sendo muito diferente do que vemos na faculdade, que tem um viés clínico, de elite. Na área social nos temos que lidar com o básico, confiança, segurança, auto estima, autonomia. Entender o contexto de pessoas que não tem a mínima noção que fazem parte do mesmo mundo que o meu. Que não sabem que também tem o direito de ter um trabalho digno, de reclamar por serviços melhores, e ter estudo de qualidade e quem sabe fazer uma faculdade e ser um "doutor".

Na área social a gente tem que estar muito mais por dentro de leis e políticas, de estatutos, de direitos. E trabalhar lado a lado com assistentes sociais, de trabalhar assuntos complexos lado a lado com necessidades básicas. Mostrar pra pessoa que ela pode ser mais, contudo, respeitando os limites do outro. Que pode sim querer as mesmas coisas que a gente, mas sem se apropriar delas, e sim conviver como igual. É difícil, é mesmo. Ainda por cima colocar de lado conceitos preconcebidos que ouvimos desde que somos pequenos.

A área social continua não sendo uma das minhas preferidas, ainda vou migrar pra saúde algum dia. Mas que ela me fez crescer como profissional e como pessoa, isso é inegável.

Senti aqui que é um assunto pra continuar... :)

3 comentários:

  1. Minha irmã trabalha na casa de acolhimento de Santos. E alguns casos são pesados mesmo.

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