Trabalhei um ano e meio na diretoria básica, em CRAS, e há alguns meses fui transferida pra diretoria da alta complexidade, para as casas de passagem e serviços de acolhimentos (se você não tá entendendo nada, leia esse post).
Fiquei como técnica responsável pelas casas de adultos; No município que eu trabalho temos quatro casas, duas pra crianças, e duas pra adultos. Sendo nas categorias casa de passagem e serviço de acolhimento. Nas casas de passagem os atendidos podem ficar até três meses, para de organizarem e encontrarem um lugar para ficar, retornar ao convívio familiar ou ser transferido para outro serviço. Nos serviços de acolhimento de longo prazo pode-se ficar por até três anos, são geralmente casos mais crônicos que necessitam de mais tempo para se organizar.
Fico duas vezes por semana numa casa e três vezes em outra. Na casa de passagem normalmente o público são moradores de rua que necessitam de um endereço físico para dar continuidade a algum tratamento de saúde, pessoas que tiveram problemas em sua moradia (enchentes, incêndios) e necessitam de um tempo para que possam retornar. O serviço é voltado para indivíduos com vínculo familiar rompido ou sem nenhum vínculo familiar, migrantes, pessoas sem condição de auto-sustento.
Todas as casas possuem assistente social. No geral nossos serviços se cruzam e se misturam, ficando diferenciado o olhar para cada caso. Minha rotina é prover acolhimento, atendimento e aconselhamento psicológico, no sentido de dar um suporte pra essa fase da vida que estão passando, não tenho um foco clínico, se necessário encaminho para os serviços da saúde.
A maioria dos acolhidos tem problema mental ou toma remédio controlado. Alguns tem discurso confuso, e a maioria está bastante acostumada a esperar que façam as coisas para eles; bastante assistencialismo, bem arraigado. Tento trabalhar no sentido de fortalecer a independência e mostrar a sua responsabilidade para com sua própria vida. A casa provê as necessidades básicas, enquanto isso tentamos dar um empurrão pra pessoa melhorar de vida. Há muitos casos reincidentes, muitos casos que estão sendo empurrados com a barriga por anos. Os profissionais são constantemente trocados a bel prazer da diretoria, e diversos funcionários já desistiram de começar um trabalho com os atendidos (ou nunca quiseram começar, já se acomodaram com o fato de ter emprego garantido pro resto da vida).
Alguns atendimentos são frustrantes, algumas pessoas simplesmente desistiram de tentar e jogaram as vidas nas mãos de outras pessoas, como se não fossem nada, como se nada valesse a pena. Não demonstram sinais de depressão, não demonstram sinais de nada. Simplesmente pra eles não faz diferença se vão se dar bem ou mal. Perspectiva zerada. Ambição inexistente.
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