terça-feira, 19 de abril de 2016

Coisa de menina mimada

- Escuta aqui, eu preciso te falar uma coisa - disse séria, estava almoçando, nem olhava pra ela, arregalei um pouco os olhos e me virei pra olhar pra ela, mas não disse nada.
- Eu não sou sua dona e você não é minha assistente, nunca mais diga isso. Eu preciso muito de você aqui - continuou - O que eu mais quero é dividir a responsabilidade e fazer um serviço de continuidade.
Ainda não respondi, parei de comer, ainda olhava pra ela, com os olhos menos arregalados.
- Eu divido tudo com você e queria muito que você falasse mais, para de guardar as coisas pra você e não deixa que subam nas suas costas, se imponha! - e me abraçou. Até aí estava tudo bem.
- Eu sei, eu sei - respondi e retribui o abraço.
- Eu não deixo que eles subam nas minhas costas, eu falo o que tenho que falar e faço o serviço andar. Mas preciso dizer outra coisa, pois tenho experiência. - e aí as coisas começaram a desandar. O abraço terminou e não disse mais nada, apenas ouvi. - Olha, o serviço é pesado e muitas vezes quis desistir, mas eu sou velha e não tenho mais pra onde ir, você é jovem, pode ir pra outro serviço, peça transferência se assim preferir, mas não acho justo, pois preciso de você aqui e trabalhei muitos anos sozinha. Mas nunca engoli as palavras e fui embora chorando, e para os outros, isso pode parecer coisa de menina mimada.

Não preciso dizer mais nada, nem continuar. Para os outros pode parecer coisa de menina mimada? Engraçado, pois não foi isso que ouvi. Sim, ela bem disse que sou uma ótima profissional e, realmente não é a primeira vez que ouço que preciso me impor, mas daí a dizer que ir embora quando me sinto mal é coisa de menina mimada?

Quantas vezes não foram embora doente e nunca é questionado, agora se a pessoa tem uma crise de nervos, isso não é passar mal?

Eu pensei por um momento em pedir desculpas por ter ido embora, mas agora reconsiderei, ainda bem que essa avalanche de egoísmo me fez abrir os olhos. Temos que nos acertar, não vou abandonar o serviço pra sempre, mas ir embora no dia que não me senti bem, seja o motivo que for, não é coisa de menina mimada. O quanto de vezes que não respirei fundo e continuei lá? Faça me o favor.

Quando a gente acha que a pessoa vai descer do pedestal, ela vai e sobe de novo. Mais humildade, menos egoísmo, mais trabalho em equipe, por favor.


quarta-feira, 6 de abril de 2016

Desabafo

Todo mundo sabe que eu sou uma pessoa bastante sincera, não me pergunte algo ao qual vc não está preparado para ouvir a resposta. Mas hoje eu queria fazer um desabafo...

Tem uma grande diferença entre fazer uma crítica construtiva e apontar erros com o claro intuito de magoar o outro.

Como eu acabei de falar ali em cima: "não me pergunte" ou seja, eu não saio apontando pros outros o que eles fizeram de errado, mas se me perguntarem, eu vou ser obrigada a dizer. E tem mais, eu vou tentar encontrar a maneira mais delicada possível de falar, porque vejam, minha intenção não é magoar ninguém, mas sim mostrar pra pessoa o que ela pode melhorar.

Agora, é muito desanimador quando parece que a pessoa aponta seus erros com o intuito de te ver mal, com o intuito de te fazer entristecer ou o intuito de te ver chorar.

Eu sei que sou psicóloga e sei que muitas teorias explicam muito bem esse comportamento, mas uma coisa é ajudar outras pessoas a superarem os problemas, outra é quando os problemas são nossos, temos sempre essa ferida aberta...

Só em contos de fadas o bom é bom e o mau é mau. Na vida real, todo mundo tem tudo misturado, todo mundo é passível de erros e acertos. Todo mundo está vivendo uma batalha interna que a gente não tem nem ideia...

Eu entendo, entendo mesmo os muros e as cercas construídas pra proteger o ego dos bombardeios do mundo externo. Mas também sou indivíduo, também sou ser humano, também tenho sentimentos e também sofro quando pessoas importantes pra mim tentam me machucar.

E eu queria muito ter forças pra simplesmente largar tudo e recomeçar, mas não é bem assim que a banda toca... Sou muito agradecida por ter nascido na família que nasci, mas que tem hora que tenho vontade de sumir, ah, eu tenho...